quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Entrevista da Ministra

O que se segue é uma entrevista da Ministra da Educação dada à SIC no dia 18 de Junho.

- Pergunto-lhe, Sra. Ministra, se o Ministério anda a fazer exames mais fáceis ou se os alunos andam a estudar muito?

- Sabe, eu não me consigo pronunciar dessa forma tão superficial. Como também considero superficial dizer que o exame de hoje ou de ontem foi a sério e que as provas de aferição não são a sério. Sabe que é muito desmobilizador para os professores e para as escolas dizer que aquilo que é um trabalho em que eles investem, só porque ele tem resultados positivos não é a sério.

- Tenho muita pena mas, neste contexto, tenho que me socorrer de autoridades como o Professor Nuno Crato que diz que há exames de preparação que são ridiculamente simples - e a expressão é dele -; tenho que me socorrer da Associação Nacional de Pais que vai ao encontro também desta expressão; tenho que me socorrer de um alerta lançado pelo Professor Paulo Heytor Pinto, da Associação Nacional de Professores de Português que diz que os professores só estão a ensinar para os exames...

- Bom! Cada um socorre-se do que quer, cada um faz as suas escolhas...

- Estou a socorrer-me de fontes credíveis!

- Com certeza, são as fontes credíveis para si. Para mim, fonte credível é o Ministério da Educação e o instituto que promove a realização dos exames e que o faz com todo o rigor e com todas as exigências. É muito fácil...

- Não são fáceis demais...?

- Eu não me consigo pronunciar, sabe? O Sr. consegue pronunciar-se, essas pessoas também. Eu não consigo pronunciar-me. Sabe porquê?

- Eu não me lembro de os meus exames serem fáceis demais...

- Sabe porquê?

- ... E acredito que quem a está a ouvir e a ver em casa também não tenha essa ideia.

- Não... Eu gostava que me desse a oportunidade de responder. Já me fez três ou quatro perguntas e não me deu oportunidade de responder a nenhuma. Mas gostava de ter a oportunidade de responder, com toda a tranquilidade, dizer-lhe o seguinte. O nível de complexidade de uma prova não se avalia assim pela opinião, pela sua opinião, a opinião dessas pessoas ou a minha. O nível de complexidade...

- Por muito boas que essas pessoas sejam, no domínio das suas competências...

- Se me permitir falar eu volto à SIC com toda a boa vontade. Mas se o Sr me interromper, não me deixar falar, não é possível esta entrevista.

- Faça o favor.

- Bom! Que é que eu gostava de lhe dizer? Que o nível de complexidade de uma prova tem técnicas para ser avaliada. Não é a sua opinião, a opinião dessas pessoas ou a minha. O que conta, um dos principais indicadores que se usa, usam-se técnicas estatísticas para avaliar o nível de complexidade e uma das medidas mais simples é a curva de distribuição dos resultados. E quando apenas 5% dos alunos conseguem completar a totalidade de uma prova com êxito, isso diz tudo - ou diz alguma coisa - sobre a complexidade de uma prova. Foi o que aconteceu com todas estas que estão a ser feitas. As provas são calibradas e ajustadas ao nível de exigência daquilo que é o programa. Não é o nível de exigência que o Sr. tem na cabeça ou que algum desses peritos tem na cabeça. É o nível de exigência do programa e isso é que é feito. Com todo o rigor e com toda a exigência.

- Então a Sra Ministra considera que estes especialistas estão a exigir demais?

- Deixe-me acabar. Se não me deixa acabar, eu não consigo. O que eu considero é que…

- Permita-me lembrar-lhe, Sra. Ministra isto não é um monólogo...

- Deixe-me acabar.

- ...E por isso eu pergunto-lhe, Sra. Ministra, se na sua opinião estes especialistas estão a exigir demais?

- Deixe-me acabar. O Sr. já me fez essa pergunta e ainda não me deixou acabar a minha resposta. Primeiro...

- Porque ainda não me respondeu.

- Primeiro ponto, o nível de complexidade de uma prova tem técnicas, não é uma questão de opinião, é uma questão de validação técnica, com recurso a técnicas estatísticas também. E essas pessoas, com a precipitação com que se pronunciaram, de certeza absoluta que não tiveram o rigor e exigência que pretendem para os outros. Depois...

- Eu diria que o Professor Nuno Crato é um reputadíssimo dominador do assunto.
- Depois, eu gostava de lhe dizer que há uns quantos pessimistas de serviço neste país. Muito pessimista.

- É o caso destas pessoas?

- O que acontece é o país tem que estar sempre mal, e os alunos têm que ser sempre maus. Quando os resultados são por si maus e revelam fragilidades nos conhecimentos e nas competências, aí está a prova que o país está mal.

- Os pais também estão pessimistas, Sra. Ministra?

- Quando melhora, como o país não pode melhorar, são as provas que estão erradas. Mas isso faz parte...

- Inclui os pais nesse pessimismo, Sra. Ministra?

- Não incluo nada, estou-lhe a responder a si.

- É que eu tenho aqui uma situação da Confederação Nacional das Associações de Pais a dizer assim, o seu Presidente a dizer assim: Está tudo bem com os alunos até chegarem ao primeiro ano da faculdade e ser o descalabro, porque não têm competências nem aprenderam a estudar sozinhos. São os pais que dizem.

- Com certeza. Mas sabe, eu não me pronuncio, eu tenho obrigação de ser exigente. Eu não me pronuncio sobre opiniões. Eu pronuncio-me sobre testes técnicos que são feitos às provas, sobre documentação que é necessário exigir quando se faz uma prova de aferição. O Sr. terá oportunidade, se quiser, de convidar o director do GAVE e ele explica-lhe o que é preciso, do ponto de vista técnico, para fazer uma técn... hum... uma prova e para avaliar o nível da sua complexidade. E portanto, isto não é uma questão de opinião. E devíamos ser mais cautelosos e mais respeitadores do trabalho que os professores e as escolas fazem. Porque essas pessoas, não as vi pronunciarem-se sobre: Plano Nacional de Leitura e mais horas de trabalho na área da leitura em todas as escolas; Plano de Acção da Matemática e mais horas de trabalho para a Matemática em todas as escolas; orientações claras sobre o tempo de trabalho tanto na Matemática como na Leitura em todas as escolas; formação contínua para milhares de professores, do 1º e do 2º ciclo, em Português e Matemática. Eu gostava que o Sr. e essas suas fontes, se pronunciassem sobre factos concretos: sobre as horas de trabalho, que escolas e professores tiveram, neste ano para melhorar...

- Neste caso, Sra. Ministra, as pessoas pronunciam-se sobre aquilo que pode ser corrigido.

- Não são fontes fidedignas, são opiniões.
Gostava ainda de dizer-lhe uma coisa. O facto de muitos jovens acerca do teste: que se sentem confortáveis, aliviados por terem passado um momento em relação ao qual…

- Não é só isso, eles disseram que é fácil.

- O facto de eles dizerem que é fácil não significa que a prova seja fácil. Como lhe disse, a simplicidade ou a complexidade de uma prova tem técnicas específicas...



Fim

Haja paciência pra ler isto …
quanto tempo perdido… não têm papelada pra preencher para os Conselhos de Turma, relatórios, pautas, grelhas da avaliação, cronogramas, exames nacionais para corrigir…?

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